Chapecó-SC
Chapecó-SC
Artigos
Maria Encarnação Beltrão Sposito e Igor Catalão
Revista Latinoamericana de Metodología de la Investigación Social. Data de publicação: 12-04-2024.
A realização de pesquisas em ciências sociais supõe muitos desafios aos pesquisadores, especialmente no que tange às definições de natureza metodológica. Isso se revela particularmente desafiador quando se trata de trabalhar com material produzido a partir de procedimentos qualitativos. Além de delinear os aspectos que dizem respeito ao modo como a pesquisa é feita –por exemplo, quem entrevistar e onde, que roteiro usar, quais os contextos de realização de uma entrevista, que precauções tomar etc.–, deve-se também precisar os modos de interpretar os conteúdos produzidos visando a perspectiva analítica eleita. A partir de uma pesquisa feita em dez áreas urbanas brasileiras sobre o tema da fragmentação socioespacial, propõe-se, neste artigo, uma forma de analisar conteúdos de entrevistas feitas com citadinos. Para isso, apresenta-se o quadro geral de realização da pesquisa – incluindo objetivos, enquadramentos de método e procedimentos metodológicos – para, então, desenvolver uma proposta de pautada em três categorias originalmente desenvolvidas pelo pesquisador francês Hervé Breton para proceder à interpretação de narrativas: espaciotemporal, experiencial e inferencial. Embora a proposta de metodologia para interpretar narrativas registradas esteja apoiada em entrevistas realizadas em dez áreas urbanas brasileiras, neste artigo, apresenta-se apenas um exemplo, relativo à análise de uma delas feita em Chapecó, uma cidade do estado de Santa Catarina. O texto é concluído com alguns apontamentos de síntese.
Pablo Martin Bender e Eda Maria Góes
Caderno Prudentino de Geografia. Data de publicação: 19-10-2023.
Se exponen las dialécticas y conflictivas relaciones existentes entre la producción de espacio público y el proceso de fragmentación socioespacial en Chapecó, lo que hacemos investigando la dinámica de sus parques urbanos y áreas verdes, y sus interrelaciones con el capital inmobiliario y la renta diferencial. Analizando las modificaciones introducidas por el Partido del Frente Liberal al Plan Director de 2004, corroboramos la emergencia de nuevos marcos legales, que favorecen la oferta, apropiación y gestión privada de áreas verdes e infraestructura de recreación. Las prácticas de ocio y esparcimiento observadas en el Ecoparque, se realizan a través de una lógica espacio-temporal que hemos denominado “temporalidades diferenciadas”. Actividades como las desarrolladas por la “Asociación de amigos del Parque Alberto Fin”, quienes se organizan para llevar a cabo la manutención y otras tareas comunitarias, pueden ser consideradas una forma de resistencia al proceso de fragmentación socioespacial. La dimensión jurídica del espacio público y las prácticas en él realizadas, continúan siendo un obstáculo para el avance de su privatización total.
Atividades comerciais e de serviços e centralidade intraurbana em Chapecó-SC
Victor Hugo Quissi Cordeiro da Silva
Geografia. Data de publicação: 06-10-2022.
A localização das atividades comerciais e de serviços na cidade de Chapecó – SC constitui o tema central deste artigo. Para tanto, empregamos como procedimentos metodológicos a construção de um banco de dados a partir do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE) e a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). O CNEFE e o CNAE possibilitaram produzir representações cartográficas que sustentaram nossas análises sobre o centro e a centralidade intraurbana em Chapecó – SC. Tendo em vista os resultados obtidos com os referidos procedimentos metodológicos, podemos observar a presença de uma grande concentração de estabelecimentos comerciais e de serviços no centro principal. Entretanto, novas áreas também apresentaram concentrações, formando subcentros, ainda que com nível de densidade menor.
Do BNH ao PMCMV: O processo de conformação de novas periferias urbanas em cidades médias brasileiras
Maria Jose Martinelli Silva Calixto, Mara Lúcia Falconi da Hora Bernardelli , Doralice Sátyro Maia e Caline Mendes de Araujo
GEOgraphia. Data de publicação: 31-08-2022.
Visando trazer elementos para ampliar o debate sobre o processo de conformação de novas periferias urbanas, o texto toma como referencial duas grandes políticas públicas de habitação, o Banco Nacional da Habitação (BNH) e o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) - Faixa 1, e sua expressão na reconfiguração da relação centro-periferia, bem como os consequentes desdobramentos socioespaciais, em três cidades médias brasileiras estudadas no âmbito da Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias (ReCiMe): Campina Grande, na Paraíba, Chapecó, em Santa Catarina, e Dourados, em Mato Grosso do Sul. Para desvelar algumas dimensões desse processo que, embora geral, ganha particularidade em cada uma das cidades, tomaram-se como base uma revisão bibliográfica sobre a temática; dados secundários referentes ao período de 2009 a 2020, disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), por meio do Sistema de Gerenciamento da Habitação (SISHAB); pesquisas de campo; informações obtidas em plataformas virtuais (de prefeituras, empresas construtoras e incorporadoras); mapeamentos, levantamentos e análises documentais assim como da legislação urbana local. O estudo permitiu constatar que a implantação dos projetos do BNH demarca a constituição da periferia e a conformação da relação centro-periferia, e o PMCMV, por sua vez, aprofunda essa dinâmica, promovendo maior dispersão do tecido urbano e o surgimento de uma periferia com conteúdo mais plural.
Pablo Martin Bender e Eda Maria Góes
Caminhos de Geografia. Data de publicação: 04-02-2022.
Neste artigo são discutidas as novas relações entre espaços públicos e espaços privados estabelecidas a partir da revisão do Plano Diretor de Chapecó, em 2006, e seus impactos. Se verificaram uma série de ações e leis tendentes a afastar os jovens, principalmente os das periferias, do centro de Chapecó, além de normas e programas da prefeitura que promovem e regulamentam a expansão dos interesses comerciais e empresariais sobre a gestão do espaço público. Mas também se observou os limites desses programas e as novas práticas espaciais dos jovens no centro, evidenciando mudanças nas relações entre público e privado. Se conclui que tendências como a privatização estão presentes, dentre outras que configuram o processo de fragmentação socioespacial, mas há disputa.
Livros
Metodologia de pesquisa em estudos urbanos: procedimentos, instrumentos e operacionalização (2022)
Eda Maria Góes; Evaraldo Santos Melazzo (Orgs.)
A diferenciação socioespacial em cidades brasileiras vem se aprofundando. Aponta para a constituição do processo de fragmentação socioespacial no plano da cidade e do urbano e redefine os sentidos do direito à cidade. A partir desta problematização foi formulado o Projeto Temático Fragmentação socioespacial e urbanização brasileira: escalas, vetores, ritmos, formas e conteúdos (FragUrb), coordenado pela Profa. Dra. Maria Encarnação Beltrão Sposito, aprovado pela Fapesp em 10/2018. Com foco nas cidades de Mossoró/RN, Marabá/PA, Ituiutaba/MG, Ribeirão Preto/SP, Presidente Prudente/SP, Maringá/PR, Dourados/MS, e Chapecó/SC e duas áreas da metrópole paulista: Cidade Tiradentes/SP e Bairro dos Pimentas em Guarulhos, o Projeto foi organizado articuladamente em quatro planos analíticos (1: Centro, centralidade, policentralidade e mobilidade; 2: Práticas espaciais e cotidianos, 3: Espaços públicos e 4: Produção e consumo da habitação), cinco interdependentes dimensões empíricas (habitar, trabalhar, lazer, consumo e mobilidade) e seis frentes metodológicas (1. Grupos focais, 2. Entrevistas com citadinos e agentes bem-informados, 3. Percursos e suas representações [casa trabalho casa, em espaços públicos e diários registrados], 4. Netnografia e análise de redes sociais, 5. Banco de dados e 6. Cartografia). É com o foco na elaboração do trabalho em cada uma destas frentes metodológicas, de maneira articulada àqueles quatro planos analíticos e às cinco dimensões empíricas, que é estruturado este livro, apresentando o fazer da investigação em relação aos desafios de elaborar as mais adequadas perspectivas operacionais, construir instrumentos, aplicá-los e avaliá-los, validando-os ou adaptando-os.
Maria José Martinelli Silva Calixto; Sérgio Moreno Redón (Orgs.)
As contribuições aqui reunidas apresentam o resultado de um esforço colaborativo em trazer a público as análises desencadeadas a partir do projeto de pesquisa, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), denominado O Programa Minha Casa Minha Vida e seus desdobramentos socioespaciais: os novos vetores da produção do espaço em cidades médias brasileiras. O objetivo é promover debates e reflexões sobre os novos vetores de expansão urbana e suas determinantes espaciais em cidades médias, centrando a atenção em cidades pertencentes a diferentes formações socioespaciais: Dourados (Região Centro-Oeste), Ribeirão Preto (Região Sudeste), Chapecó (Região Sul), Marabá (Região Norte) e Campina Grande (Região Nordeste). Nessa perspectiva, este livro revela os diferentes conteúdos da urbanização contemporânea, possibilitando novas pesquisas, novos diálogos e novas reflexões sobre o tema.
Trabalhos completos publicados em anais de eventos
XVII SIMPURB (2022)
Centro e centralidade em cidades médias
Victor Hugo Quissi Cordeiro da Silva
Este artigo discute o centro e a centralidade intraurbana nas cidades médias de Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Chapecó e Ituiutaba. Debatemos brevemente fatores de ocorrência de áreas centrais, trazendo à tona o elemento técnico e suas transformações, condicionando a constituição da centralidade intraurbana. Neste ponto, os conceitos de Cidades Bocas de Sertão, Cidades Ponta de Trilhos e Cidades Ferroviárias são destacados. Na sequência, apresentamos a descentralização e formação de novas áreas centrais, respectivamente processo socioespacial e forma espaciais que marcam as cidades médias no período mais recente, colando em relevo os conceitos de multicentralidade e policentralidade, bem como as diferentes expressões da centralidade urbana. Nas cidades analisadas neste artigo destacou-se o papel dos shopping centers na redefinição da centralidade intraurbana. Complementando a análise, trouxemos a debate em torno das relações entre as áreas centrais da cidade, marcadas pela hierarquia, concorrência, complementariedade e coocorrência. Defendendo a ideia de que nas cidades médias podem existir relações hierárquicas e não hierárquicas entre áreas centrais.
XXII Semana de Geografia da FCT - UNESP (2022)
A atual conjuntura em que se apresenta o mercado imobiliário brasileiro aponta para a reestruturação das cidades, ao passo que expressa novas configurações econômicas e sociais do espaço, aprofundando as desigualdades socioespaciais e destacando novos vetores de expansão territorial. Diante deste contexto, o presente trabalho visa a construção e análise de um banco de dados sobre ofertas imobiliárias no período entre os anos 1995 e 2020 nas cidades de Chapecó/SC e Mossoró/RN, que permita compreender o tipo de produto imobiliário, seus usos, preços e localizações diferenciadas e que possibilite também analisar a dinâmica do mercado imobiliário e fundiário ao longo do tempo e em sua dimensão espacial. Espera-se que o conjunto dos dados permitam, ainda, interpretar as mudanças e permanências na produção da cidade, enfatizando as desigualdades socioespaciais, em particular a problematização do processo de fragmentação socioespacial.
Dissertações
Bruna Natali de Castro Keschner
O debate sobre sociabilidade e os espaços que lhe são necessários são tema de grande relevância para a vida urbana hoje (Delgado, 2011). Em particular nas periferias, seja nas tradicionais, seja nas novas (Sposito, 2004), essa discussão ganha relevância quando pensamos nas possibilidades de que dispõem os citadinos. O presente trabalho abordou as (in)existências de espaços para sociabilidade na grande Efapi – junção dos bairros Efapi, Vederti, Fronteira Sul e Araras. Trata-se de uma periferia da cidade média de Chapecó, localizada no oeste de Santa Catarina. Nosso principal objetivo foi analisar quais são as práticas de sociabilidade das pessoas da periferia de Chapecó e quais os espaços utilizados nessas práticas. A abordagem metodológica é qualitativa, considerando a autora como pesquisadora participante (Turra Neto, 2012), visto sua posição como moradora de um dos bairros. A partir disso, tem como principal base de informações as conversas informais, embasadas posteriormente por trabalhos de campo e entrevistas. Ao encontrar os centros comunitários como espaço semipúblico de sociabilidade que surge como alternativa à falta de espaços públicos nas periferias, a pesquisa tomou um rumo diferente, pois encontra, nesses espaços e nas práticas realizadas ali, a herança do contexto urbano-regional na periferia da cidade. Ao analisar os espaços de sociabilidade da grande Efapi (periferia de Chapecó), constatamos que mesmo quando não são proporcionados os espaços adequados através do planejamento urbano, os citadinos buscam seu direito à cidade (Lefebvre, 2001) promovendo e construindo espaços que sanem suas necessidades. Está claro que existe uma necessidade de espaços públicos na periferia, ignorada em certa medida, porque os moradores desenvolveram espaços para substituí-los, mas isso deixa claro também o quanto são necessários.
Anghinoni, A presente pesquisa parte da necessidade de compreender como as centralidades têm sido desenvolvendo quando se trata de um panorama temporal, particularmente em países de médio porte cidades, com destaque para a cidade de Chapecó-SC. O ponto de partida é questionar qual fatores contribuíram para a concentração de estabelecimentos na categoria hotelaria, bares e restaurantes em certas partes da cidade. Direcionar a pesquisa para obter dados que fornecer informações suficientes, o intervalo de tempo foi definido de 2001 a 2021. Seguindo esse cronograma, a investigação foi viabilizada por meio de pesquisas bibliográficas pesquisas sobre o tema, desde a coleta de dados até a análise e apresentação de resultados. Compreender o tema da centralidade e como ele está diretamente relacionado com cidades de médio porte e estabelecimentos hoteleiros, bares e restaurantes foi o que norteou o decorrer das outras etapas. A pesquisa quantitativa esteve presente desde o início da investigação, com planilhas de dados obtidas por entidades que contribuíram dados descritivos, especialmente de estabelecimentos ativos na cidade. Tendo definido o material, foi possível identificar os estabelecimentos que contribuíram para o formação de centralidade em algumas áreas de Chapecó, como centro, norte e o oeste da cidade. Vale ressaltar que a definição do intervalo de tempo contribuiu à observação detalhada da concentração e dispersão dos estabelecimentos, principalmente após a criação de mapas para representar graficamente essa perspectiva. E por realização de pesquisa qualitativa por meio de entrevistas com os proprietários e/ou funcionários de hotéis, bares e restaurantes, a compreensão do porquê das centralidades concentrados e implantados em determinados pontos da cidade, de acordo com aspectos históricos, foi complementado.
Transporte público, cidades e justiça espacial: explorações geográficas na região de Chapecó
João Henrique Zoheler Lemos
As condições de oferta, abrangência e qualidade do transporte coletivo de passageiros demarcam uma importante variável para a análise da urbanização contemporânea e as suas especificidades locais e regionais. Sua existência ou ausência repercute em impactos sociais e territoriais que, ao serem problematizados na escala da rede urbana, possibilitam a identificação de contextos espacialmente injustos, que se tornam barreiras para a integração territorial e o desenvolvimento das interações espaciais. Essas considerações compõem as preocupações centrais da pesquisa que resultou nesta dissertação, a qual teve como objetivo central investigar as condições diferenciadas de acessibilidade e mobilidade na Região Geográfica Imediata de Chapecó, em Santa Catarina, considerando-se o transporte rodoviário intermunicipal de passageiros como elemento central de análise. Situada no contexto regional influenciado pela cidade média de Chapecó, importante centro urbano da região Sul do Brasil, a pesquisa explorou as condições de transporte coletivo regular entre essa cidade de papéis regionais importantes e as outras 31 cidades pequenas situadas no seu entorno imediato. Partiu-se da constatação inicial de que o meio de transporte analisado não tem uma oferta e distribuição em situações justas no recorte territorial proposto, situação que resulta na relativa inacessibilidade entre as cidades ali situadas. O quadro teórico mobilizado possibilitou que o processo de formação dos serviços de transporte de passageiros fosse compreendido, sobretudo, à luz da formação socioespacial brasileira e suas particularidades regionais. Com base em uma metodologia simultaneamente qualitativa e quantitativa, a pesquisa foi construída a partir da revisão bibliográfica teórica e temática sobre o tema central e os assuntos correlatos, a realização de trabalhos de campo no plano empírico delimitado, a sistematização e análise de dados quantitativos sobre o transporte intermunicipal de passageiros operado em Santa Catarina e, por fim, a elaboração de mapas temáticos para a representação das informações obtidas. A pesquisa atestou que o transporte rodoviário de passageiros é central para a estruturação da acessibilidade na escala urbano-regional, especialmente diante das condições geo-históricas do território brasileiro. Das principais conclusões obtidas, destaca-se, primeiramente, que a justiça espacial na escala urbano-regional possibilita um importante debate para as realidades não metropolitanas brasileiras, pois incorpora a preocupação de se aventar uma cidadania de feições regionais, que sirva de caminho teórico para os estudos geográficos. Num segundo momento, especificamente acerca do objeto central da pesquisa, concluiu-se que o transporte rodoviário de passageiros catarinense, atividade responsável pela oferta de viagens entre as cidades na região de Chapecó, é operado em condições precárias, não recebe a adequada atenção por parte do órgão público responsável pela fiscalização, sofre com usos privatistas por parte de grandes agentes econômicos e, por fim, demanda uma ampla reestruturação do seu marco regulatório. É evocado o papel do Estado enquanto ente planejador central, tendo na sua atuação um papel indispensável para a qualificação das atividades e serviços públicos que concretizam a integração territorial em várias escalas, como a efetivada pelo transporte público operado no modal rodoviário.
TCCs
O presente estudo buscou compreender os papéis e as funções das cidades médias a partir das interações espaciais que são estabelecidas no âmbito de uma rede hierárquica de cidades e que geram fluxos constantes de habitantes das cidades pequenas do entorno destes centros regionais, tornando-os arranjos populacionais dos núcleos polarizantes. Desta maneira, os processos decorrentes destes constantes fluxos, complexificam e dão forma a redes urbanas cada vez mais heterogêneas e centralizadas nas cidades médias, tornando o papel e a centralidade das cidades pequenas cada vez mais articulado às dinâmicas regionais das cidades médias, relação explicada pelo processo de diferenciação socioespacial. Tomou-se como recorte para estudo, as cidades médias de Chapecó/SC, Maringá/PR, Presidente Prudente/SP e Ribeirão Preto/SP e seus respectivos arranjos populacionais, utilizando os dados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e comparando as metodologias utilizadas em cada estudo, sendo apresentado, ainda, diferentes maneiras metodológicas de utilização de dados e pesquisas de órgãos institucionais.
Tendo como principal referência teórica a fragmentação socioespacial, analisamos as práticas espaciais, a organização e reprodução da vida cotidiana por meio das redes sociais virtuais, especificamente, em dois casos de empreendimentos “Minha Casa Minha Vida”, Faixa 1, em cidades médias: João Domingos Netto, na Presidente Prudente-SP, através de um grupo no Facebook; E Loteamento e Condomínio Expoente, em Chapecó-SC, através das redes sociais do Facebook e do Whatsapp. Para tanto, dispomos da Netnografia como instrumental metodológico construído com objetivo de interpretar as ações e as interações virtuais. Tal análise nos revelou a constituição de redes sociais de apoio, fluxos de informações e de confiança, bem como de algumas temáticas recorrentes, a saber: comércio, oferta de serviços informais, problemas quanto à mobilidade urbana, infraestrutura e acerca do contexto socioeconômico local e do país. Desse modo, tais relações nos permitiram interpretar com maior acuidade as estratégias na reprodução da vida cotidiana e o quanto estas se relacionam com a condição de segregação e a tendência da fragmentação socioespacial, já que consideramos que o presencial é o virtual e vice-versa.
Juventude do campo e o direito à cidade
Shara Brunetto
A urbanização no século XX se estendeu pelo Brasil, através da industrialização de grandes centros, porém esse processo não se limitou às cidades, estendendo-se até o campo. O processo de urbanização do campo na região de Chapecó vem desde meados de 1950, passando pela modernização do campo através de máquinas agrícolas, chegando no fim do século XX e início do XXI com mudanças que vão além dos meios de produção, são mudanças no modo de vida dos moradores do campo. Para compreender esse processo, pretende-se analisar o direito à cidade na perspectiva das juventudes do campo especialmente no que tange às relações que ela estabelece com a cidade em termos de lazer, pertencimento/conexão e consumo. Para atingir esse objetivo, para além do debate teórico, foram realizadas entrevistas de forma online com a pretensão de evidenciar aspectos do cotidiano dos jovens do campo, bem como suas práticas espaciais realizadas entre a cidade e o campo. Portanto, a urbanização do campo, aqui em evidência, vai além da modernização dos modos de produção, passa por uma transformação do modo de vida camponês, para uma apropriação do modo de vida urbano e é de extrema relevância para entender o contexto dos jovens no campo atualmente, marcado por uma variedade de práticas e formas de apropriação dos espaços.
Esta pesquisa busca discutir a localização das atividades comerciais e de serviços nas cidades médias brasileiras de Presidente Prudente (SP), Ribeirão Preto (SP), Chapecó (SC) e Ituiutaba (MG). Discutimos as formas espaciais decorrentes da concentração, desconcentração e reconcentração dessas atividades a partir de cada uma das cidades estudadas, destacando as transformações e permanências, as diferenças e similitudes e o que há de geral e particular em cada realidade empírica. Os processos e as formas espaciais são trabalhados em conjuntos, como pares complementares e indispensáveis para a interpretação geográfica da produção do espaço urbano. Como caminho metodológico adotamos o levantamento de informações e construção de um banco dados sobre as cidades estudadas. Utilizamos para tanto o Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE) e a Classificação de Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) com os quais construímos uma base de dados abrangente sobre atividades econômicas e que serviram de apoio para a elaboração de mapas com as representações das densidades ou das concentrações de comércios e serviços. A vinculação desta pesquisa ao Projeto temático “Fragmentação socioespacial e urbanização brasileira: escalas, vetores, ritmos, formas e conteúdos”, em desenvolvimento pelo Grupo de Pesquisa Produção do Espaço e Redefinições Regionais (GAsPERR), colocou como um de nossos objetivos contribuir para o debate em torno do processo de fragmentação socioespacial, a partir de uma das dimensões deste processo, qual seja, a formação da multi(poli)centralidade urbana. Percebemos que existem processos gerais ou lógicas comuns atuantes nas cidades estudadas, principalmente em relação ao caráter reconcentrador da formação de núcleos secundários, demonstrando que a descentralização forma novas concentrações no interior do espaço urbano. Em relação aos agentes deste processo podemos afirmar, a partir dos resultados obtidos, que a localização dos shopping centers cumpre um papel de fundamental importância na centralidade urbana, ora reafirmando o protagonismo do centro principal, ora conformando novas áreas concentradoras de comércios e serviços.