Dimensões Empíricas
Dimensões Empíricas
A dimensão do consumo é importante, pois ela atua como mediadora das demais dimensões da vida urbana, perpassando transversalmente o cotidiano dos citadinos. Habitar, trabalhar e desfrutar de momentos de lazer, na maior parte das vezes, significa consumir algo. Deste modo, a impossibilidade do consumo para os segmentos sociais mais pobres indica dificuldades na própria manutenção de sua vida cotidiana. Portanto, o consumo precisa ser entendido a partir de sua multiplicidade de significações e de condições de efetivação.
A dimensão do habitar corresponde ao lócus central da vida privada, da vida familiar. Historicamente, as questões relativas à habitação estão no centro da problemática urbana, visto que sua realização vem sendo marcada por conflitos advindos das desigualdades socioespaciais relacionadas com a distribuição, localização e qualidade das habitações – desigualdades ampliadas pela lógica do mercado imobiliário que trata a habitação como mercadoria. Assim, é fundamental entendermos como o processo de fragmentação socioespacial recoloca a dimensão do habitar nas cidades estudadas, considerando as experiências dos citadinos de diferentes segmentos sociais.
A dimensão do lazer, em contraposição à dimensão do trabalho, diz respeito aos momentos de suposta liberdade e espontaneidade, nos quais os citadinos podem desfrutar do lúdico. No entanto, as desigualdades socioespaciais fazem com que as experiências de lazer sejam muito diferenciadas segundo os distintos segmentos sociais, visto que essa é uma dimensão da vida urbana facilmente preterida para aqueles que não têm garantidas as condições básicas de sobrevivência e, por isso mesmo, pode revelar a criatividade e as resistências que se produzem no plano cotidiano. Assim, as práticas espaciais associadas às diferentes possibilidades de lazer expressam as disjunções e as conjunções socioespaciais envolvidas no processo de fragmentação.
A mobilidade urbana associada à acessibilidade urbana é uma dimensão empírica que dá suporte para as outras dimensões da vida urbana, mas que constitui ela mesma uma experiência particular, revelando como ocorre o movimento na cidade. No contexto da fragmentação socioespacial é crucial entender como os citadinos se deslocam pela cidade, fazendo a ligação entre seus fragmentos em suas diferentes atividades. Isso porque vivenciar a cidade a pé, de bicicleta, de carro ou no transporte coletivo, por exemplo, fomenta experiências e relações socioespaciais diferenciadas e diferenciadoras.
O trabalho é outra dimensão empírica que tem papel importante na realização da vida urbana. As transformações que vêm ocorrendo nas relações de trabalho têm rebatimentos diretos nas práticas espaciais dos citadinos que não trabalham mais segundo a lógica fordista e nem vivenciam mais a cidade fordista. As diferentes possibilidades de inserção no mercado de trabalho – formal/informal, contínuo/intermitente, público/privado – perpassam os ritmos, os circuitos e os laços sociais que constituem o referencial das experiências urbanas, considerando a perspectiva dada a esta expressão por Mongin (2009).