Plano Analítico 1: Centro, centralidade, policentralidade e mobilidade
Plano Analítico 1: Centro, centralidade, policentralidade e mobilidade
Objetivo específico 1: analisar a passagem da lógica socioespacial predominantemente centro-periférica para a lógica socioespacial fragmentária.
Sendo a fragmentação socioespacial um processo que permite compreender o modo como o urbano e as cidades são estruturados, consideramos que o paradigma fragmentário ajudará a explicar como são alteradas as lógicas, dinâmicas e práticas espaciais, cujos efeitos recaem em mudanças decorrentes na diferenciação e nas desigualdades socioespaciais. Este par contraditório e complementar – a diferenciação e a desigualdade – poderá constituir-se em canal de aproximação com dimensões do direito à cidade.
Para compreendermos a produção da cidade e a diferenciação no urbano, buscaremos profundar a relação dos processos por meio da mobilidade no espaço, considerando-se mobilidade e acessibilidade urbanas, o que possibilitará revelarmos as mudanças na passagem de uma lógica centro-periférica para a lógica socioespacial em rede, cuja estruturação e articulação ocorrem e decorrem da interescalaridade.
Outra contribuição, como uma questão a ser investigada, concerna ao que foi colocado por Prévôt-Schapira (2001, p. 49) ao considerar que a fragmentação socioespacial se consolida na vida do citadino à medida que se reduz a possibilidade de ir e vir na cidade. Como destaca a autora, a redução da subvenção e a deterioração do transporte coletivo e o encarecimento de meios como os automóveis particulares reforçam, de modo importante, o efeito da distância ao centro e o sentimento de exclusão. Assim, a policentralidade seria reforçada por meio da qualidade da mobilidade, ampliando a quantidade dos centros e subcentros nas cidades, no que se refere à funcionalidade e especialização. Sobretudo, porque no conjunto de cidades a serem pesquisadas, há modos de organização e de mobilidade muito distintos no que se refere ao paradigma fragmentário.
Neste contexto, destaca-se, ainda, a condição à formação de estruturas multicêntricas que, para Whitacker (2017), são formas espaciais compreendidas como novas centralidades na cidade que podem ou não vir a concorrer com o centro principal. Nesse contexto da urbanização contemporânea, chamamos a atenção para o debate sobre a relevância de enxergarmos os atributos da mobilidade nas cidades não somente em sua dimensão técnica, mas em seu conteúdo como parte do processo que nos permite compreender o modo como a cidade é produzida porseparações de diversas matizes, alimentando a fragmentação socioespacial e, por consequência, a diferenciação e a desigualdade, ao passo que altera os conteúdos do direito à cidade.
Assim, nossas questões circundam o universo de enfrentamento da cidade fragmentada, sobretudo quando analisada pela relação entre centro e centralidade. Neste sentido, salientamos a mobilidade como um dos atributos da vida urbana – bem como outros que serão destacados no item 3 que trata dos desafios científicos em nossas dimensões empíricas – como meio de compreendermos as práticas espaciais dos citadinos, a redefinição do par centro-centralidade e a chegada da policentralidade compreendida como possibilidade de articulação ou também de distanciamento entre os citadinos, dependendo do modo como a mobilidade urbana possibilita a vivência nas cidades.
Esta redefinição associa-se diretamente à difusão de formas espaciais de consumo articuladas a novos modos de consumir (ainda que combinados a velhos modos), os quais propiciam, em menor proporção, o encontro inusitado, inesperado e conflitivo próprio da sociabilidade urbana, pois nelesse amplia a homogeneização. Ou seja, ter-se-ia a tendência à proliferação de espaços marcados pelo afastamento via segmentação socioespacial.
Desse modo, a fragmentação socioespacial associa-se fortemente à policentralidade e a novas formas de mobilidade no espaço urbano cada vez mais desiguais no âmbito da vida nas cidades. Se podemos compreender a fragmentação socioespacial como a conjunção de duas tendências opostas e complementares, ainda que contraditórios, a polarização e o distanciamento, a centralidade que destes decorrem seria marcada pela ocorrência de centros na cidade com características predominantes de diferença, a ser vivida por citadinos de distintas partes da cidade e de outras cidades.