Artigos
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Lógicas econômicas e estratégias espaciais de empresas varejistas: uma análise da lojas Americanas
Flaviane Ramos dos Santos e Felipe César Augusto Silgueiro dos Santos
Caderno Prudentino de Geografia. Data de publicação: 25-05-2023.
As lógicas econômicas e estratégias espaciais ajudam a explicar como as empresas varejistas atuam espacialmente e como elas decidem suas localizações. Esse tipo de estudo é importante porque há, nos últimos anos, uma desconcentração espacial cada vez mais significativa dos grupos empresariais associados ao comércio através da expansão de filiais para cidades de diferentes portes da rede urbana. Entretanto, essa expansão não ocorre de maneira aleatória nem no tempo nem no espaço, sendo fundamental a realização de estudos de viabilidade econômica que levam em consideração diversas premissas macroeconômicas e operacionais, como renda per capita, evolução da economia local, capacidade logística, aluguel e retorno esperado. Deste modo, o presente artigo teve como objetivo analisar as lógicas econômicas e estratégias espaciais de uma das maiores empresas varejistas do Brasil, em termos de porte, capital e número de lojas, as Lojas Americanas. Para tanto, trazemos um conjunto de dados financeiros e operacionais sistematizados a partir da pesquisa realizada entre os anos de 2015 a 2018 no site da empresa, trabalhos de campo e entrevistas com gerentes de filiais desta rede e com consumidores e, por fim, materializados em gráficos, quadros e mapas.
Práticas espaciais de consumo nas cidades: conteúdos e desigualdade socioespacial
Guilherme Pereira Cocato
Estudos Geográficos. Data de publicação: 27-03-2023.
É inegável a importância das práticas relacionadas ao consumo nas cidades e para o modo de vida urbano. Especialmente o consumo consuntivo, envolvendo o comércio final e os serviços de necessidade corriqueira para a reprodução social. Nas últimas décadas, os deslocamentos orientados para o consumo se tornam mais complexos, especialmente na realidade de contradições que compõem o processo de urbanização brasileiro. Dentre outros fatores, isso se deve por reestruturações econômicas e urbanas, como mudanças no padrão de distribuição dos estabelecimentos, precarização das formas de mobilidade, alterações no modelo de expansão das cidades e manutenção de desigualdades socioeconômicas estruturais. Este artigo tem como objetivo apreender os conteúdos das práticas espaciais de consumo consuntivo em um recorte de estudo singular: a aglomeração urbana de Londrina, no estado do Paraná, composta por sete cidades em continuidade espacial, continuidade e proximidade territorial. Para isso, foram entrevistados 20 citadinos, de diferentes perfis. Em conjunto com as respostas obtidas, os resultados foram compostos por materiais cartográficos, visando o melhor entendimento das especificidades e dificuldades de tais práticas, em diferentes escalas da área de estudo. Como principal resultado, identificamos a desigualdade socioespacial em curso, materializada por díspares possibilidades de deslocamento e de consumo.
Fragmentação socioespacial e consumo na periferia de São Paulo
Maria Encarnação Beltrão Sposito
Tlalli. Revista De Investigación En Geografía. Data de publicação: 14-12-2022.
A fragmentação socioespacial é um processo multidimensional e complexo. A polissemia que acompanha a palavra fragmentação, desde a escala internacional, no plano geopolítico, até a escala da cidade, valorizando os aspectos sociais, políticos, econômicos ou culturais, mostra a amplitude do processo, mas, ao mesmo tempo, exige atenção conceitual e metodológica. Neste artigo, analisamos o processo de fragmentação socioespacial no espaço urbano, a partir da perspectiva dos habitantes da periferia, que se estabeleceram e permanecem na ordem espacial do período anterior, o centro-periferia, e enfrentam os desafios de integração e convivência na cidade fragmentada. A base empírica da análise assenta-se em entrevistas realizadas com moradores do bairro de Pimentas, na cidade de Guarulhos, Estado de São Paulo, Brasil. Duas escalas urbanas, a da cidade e a da metrópole, são vistas a partir das escolhas espaciais feitas para o consumo de bens e serviços. A análise contempla as relações entre condição periférica e consumo, entre consumo e centralidade e, por fim, sobre a construção da ideia de centro na periferia.
Magno Ricardo Silva de Carvalho e Iara Rafaela Gomes
Revista Cerrado. Data de publicação: segundo semestre de 2022.
A desconcentração espacial de corporações do setor terciário proporcionou a chegada de grandes superfícies comerciais em espaços urbanos não-metropolitanos. Esta dinâmica favoreceu o estabelecimento de novos espaços privados de consumo em Marabá, cidade média paraense. Fruto de pesquisa, este artigo visa contribuir para uma interpretação das práticas existentes nesta cidade, no que tange às centralidades do seu intraurbano diante da implantação, especialmente, dos supermercados. O percurso metodológico, de maneira geral, consistiu em revisão de literatura sobre temas e processos selecionados para investigação relacionados diretamente com o fenômeno urbano-espacial estudado, bem como de levantamento e análise de dados primários obtidos por meio de entrevistas e formulários aplicados nas saídas dos estabelecimentos supermercadistas. A nosso ver, houve mudanças significativas nas centralidades e, consequentemente, na estruturação da cidade de Marabá. Em linhas gerais, os novos espaços de consumo não apenas efetivaram-se, individualmente, enquanto expressões de centralidade, como suas respectivas presença e atuação, em muito contribuíram para a formação e consolidação de uma nova área central na cidade, localizada ao longo de parte considerável do trecho urbano da Rodovia Transamazônica.
Sofia Anchieta Messias e Eda Maria Góes
Geografia em Atos. Data de publicação: 02-05-2022.
Os espaços residenciais fechados da porção Noroeste de Presidente Prudente e, mais especificamente, as práticas dos seus moradores, são investigadas, a partir da recente introdução de atividades comerciais no seu interior. Tomamos como referência a pesquisa anterior sobre a expansão dos Espaços Residenciais Fechados em três cidades médias paulistas, Presidente Prudente, Marília e São Carlos, que resultou no livro “Espaços Fechados e Cidades: insegurança urbana e fragmentação socioespacial” (SPOSITO; GÓES, 2013), com vistas à atualização de alguns de seus resultados, levando em conta as mudanças internas identificadas e suas implicações, em relação aos processos de produção do espaço que estão em curso, com especial atenção aos impactos sobre os espaços públicos.
Sociedade do consumo e shopping centers: reflexões a partir dos rolezinhos
Carlos Henrique Costa Silva
Revista Formação. Data de publicação: 10-04-2021.
O presente trabalho tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre a crise do urbano tendo como referência a análise da sociedade de consumo a partir dos “rolezinhos”. O atual momento histórico do capitalismo revela uma sociedade com valores alicerçados no universo consumista. É no interior da sociedade fundamentada na produção que se presenciou a gênese, a expansão e a consolidação da sociedade fundamentada no consumo. Os “rolezinhos” são um exemplo da tentativa de contato e diálogo no espaço urbano entre dois mundos: pobres urbanos em busca de sua inserção social pelo consumo e as classes médias e altas urbanas que têm no consumo sua manifestação de direito à cidade.
Hamilton Romero e Maria José Martinelli Silva Calixto
Caderno Prudentino de Geografia. Data de publicação: 13-03-2020.
Neste trabalho apresentamos alguns elementos para análise das novas dinâmicas do comércio e do consumo na cidade de Dourados, localizada ao sul do Estado de Mato Grosso do Sul. Tal processo foi desencadeado, sobretudo, após a inauguração de um shopping centerem área próxima ao centro tradicional. Para o desenvolvimento de tal pesquisa, realizamos trabalho de campo envolvendo o mapeamento de algumas unidades do comércio varejista em um trecho de uma das principais avenidas da cidade. Também foram realizadas entrevistas com empresários proprietários de unidades de franquias e de lojas multimarcas voltadas à oferta de mercadorias que expressam distinção social. A centralidade exercida por este comércio, que designamos “especializado”, permitiu compreender que as dinâmicas e as lógicas de localização redefinem a centralidade e asseguram o papel do centro como principal articulador e integrador de fluxos, ideias e está em constante redefinição.
A nova condição urbana: ensaio sobre a vida na cidade na era do “homem endividado”
Claudio Smalley Soares Pereira
Boletim Goiano de Geografia. Data de publicação: 11-03-2020.
O presente artigo analisa o processo de urbanização e de produção do espaço urbano no período contemporâneo. Levantamos a hipótese de que o atual período histórico é marcado por um rápido processo de urbanização, em escala global, que apresenta características particulares. O foco recai sobre a problematização das ligações entre a urbanização, a dinâmica da financeirização e do consumo, com ampliação de uma experiência urbana cada vez mais pobre, seletiva, individualista e segmentada. Em outras palavras, constatamos uma aproximação entre a dinâmica da urbanização e da produção das cidades, de um lado, e a lógica das finanças na produção do homem endividado, de outro, que por sua vez, resulta em experiências urbanas que progressivamente negam a diversidade constitutiva da própria ideia de cidade.
Cláudio Smalley Soares Pereira
Revista de Estudos de Gestão, Informação e Tecnologia. Data de publicação: 11-2019.
O presente artigo analisa o processo de urbanização e de produção do espaço urbano no período contemporâneo. Levantamos a hipótese de que o atual período histórico é marcado por um rápido processo de urbanização, em escala global, que apresenta características particulares. O foco recai sobre a problematização das ligações entre urbanização, mundialização do comércio e do consumo. Tal processo inseriu as cidades médias brasileiras em novas dinâmicas, modificando as estruturas das cidades, as redes urbanas e inserindo-as em um novo mapa do consumo e dos investimentos capitalistas em escala nacional.
Reflexões acerca do consumo verde e sustentável na sociedade contemporânea
Jéssica Silva Souza, Vitor Koiti Miyazaki e Alessandro Gomes Enoque
Cadernos EBAPE.BR. Data de publicação: 22-02-2019.
Este artigo apresenta reflexões acerca das inter-relações entre os conceitos de consumo verde e consumo sustentável. Tendo como pano de fundo um discurso ambiental amplamente disseminado em nossa sociedade, bem como a centralidade do consumo nesse mesmo universo, percebe-se a existência de dois modelos totalmente opostos no que diz respeito às formas de pensar e agir. Enquanto o primeiro se configura como um padrão de consumo imposto pelo próprio capitalismo que, essencialmente, ressignifica suas práticas e adota um discurso até certo ponto conveniente para seus propósitos, o segundo se posiciona de modo crítico e aposta em uma lógica essencialmente transformadora. Nossas reflexões não constituem uma visão abrangente ou definitiva. Trata-se de um exercício que parte de leitura interdisciplinar dos principais pontos indicados na literatura pertinente. Assim, os textos selecionados para a confecção deste estudo não servem como uma revisão sistemática acerca do tema, mas como inspiradores de uma busca para melhor compreender a questão do consumo em nossa sociedade contemporânea. Os pontos de convergência e divergência nos textos selecionados são devidamente apontados, com vistas a traçar um caminho para a compreensão da natureza do consumo, especialmente o sustentável.
Livros
Metodologia de pesquisa em estudos urbanos: procedimentos, instrumentos e operacionalização (2022)
Eda Maria Góes; Evaraldo Santos Melazzo (Orgs.)
A diferenciação socioespacial em cidades brasileiras vem se aprofundando. Aponta para a constituição do processo de fragmentação socioespacial no plano da cidade e do urbano e redefine os sentidos do direito à cidade. A partir desta problematização foi formulado o Projeto Temático Fragmentação socioespacial e urbanização brasileira: escalas, vetores, ritmos, formas e conteúdos (FragUrb), coordenado pela Profa. Dra. Maria Encarnação Beltrão Sposito, aprovado pela Fapesp em 10/2018. Com foco nas cidades de Mossoró/RN, Marabá/PA, Ituiutaba/MG, Ribeirão Preto/SP, Presidente Prudente/SP, Maringá/PR, Dourados/MS, e Chapecó/SC e duas áreas da metrópole paulista: Cidade Tiradentes/SP e Bairro dos Pimentas em Guarulhos, o Projeto foi organizado articuladamente em quatro planos analíticos (1: Centro, centralidade, policentralidade e mobilidade; 2: Práticas espaciais e cotidianos, 3: Espaços públicos e 4: Produção e consumo da habitação), cinco interdependentes dimensões empíricas (habitar, trabalhar, lazer, consumo e mobilidade) e seis frentes metodológicas (1. Grupos focais, 2. Entrevistas com citadinos e agentes bem-informados, 3. Percursos e suas representações [casa trabalho casa, em espaços públicos e diários registrados], 4. Netnografia e análise de redes sociais, 5. Banco de dados e 6. Cartografia). É com o foco na elaboração do trabalho em cada uma destas frentes metodológicas, de maneira articulada àqueles quatro planos analíticos e às cinco dimensões empíricas, que é estruturado este livro, apresentando o fazer da investigação em relação aos desafios de elaborar as mais adequadas perspectivas operacionais, construir instrumentos, aplicá-los e avaliá-los, validando-os ou adaptando-os.
As lógicas econômicas e espaciais do ramo supermercadista (2022)
Vitor Koiti Miyazaki; Vinícius Biazotto Gomes; Maria Encarnação Beltrão Sposito; Guilherme Moreira de Sousa (Orgs.)
Um olhar mais detalhado a partir de determinados ramos de atividades comerciais e de serviços, principalmente aqueles que são mais relevantes no cotidiano da sociedade, proporciona a compreensão das novas relações entre consumo, reestruturação urbana e reestruturação das cidades. Dentro do amplo leque de possibilidades que envolve a prática do consumo, consideramos o ramo supermercadista como um dos mais relevantes no período contemporâneo em decorrência de suas características. O abastecimento doméstico, devido às suas especificidades, gera deslocamentos frequentes para a aquisição de artigos fundamentais, como alimentos, produtos de limpeza, higiene pessoal, entre outros, realizados por diferentes segmentos socioeconômicos de consumidores. Tais características são substanciais em relação às práticas espaciais dos citadinos e às lógicas econômicas das empresas que atuam no ramo, sobretudo em um contexto de modificações importantes nas relações entre consumo e cidade. O livro contempla tanto uma análise geral do ramo supermercadista quanto aquela atinente aos processos de concentração e centralização econômicas e espaciais, como parte das lógicas e estratégias locacionais dos grupos nacionais e internacionais que operam neste ramo. Partindo-se do quadro nacional, para se oferecer uma visão de conjunto do país e da distribuição das empresas e unidades, consoante à rede urbana, chega-se à realidade das cidades médias, para mostrar como grandes e médios capitais se reorganizam para ampliar seus mercados consumidores e suas áreas de atuação.
Consumo, crédito e direito à cidade (2019)
Eda Maria Góes; Igor Catalão; Luciano Antonio Furini; Márcio José Verissimo Catelan; Maria Angélica de Oliveira Magrini; Maria Encarnação Beltrão Sposito (Orgs.)
Este livro expressa, por um lado, a experiência de realizar coletivamente uma pesquisa durante seis anos, desde a construção de sua metodologia, passando pelo desenvolvimento dela, incluindo a realização de inúmeros trabalhos de campo e chegando a esta publicação que, refletindo o percurso vivido, também foi escrita a várias mãos.
Trabalhos completos publicados em anais de eventos
VIII COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE COMÉRCIO E CIDADE (2023)
Comércio varejista e fragmentação socioespacial: aproximações a partir de Ribeirão Preto/SP
Carlos Henrique Costa da Silva, Claudio Smalley Pereira e Vitor Koiti Miyazaki
Este artigo propõe-se a relacionar as formas do comércio varejista com o processo de fragmentação socioespacial, considerando-se tanto as lógicas econômicas e as estratégias das empresas quanto as práticas espaciais dos consumidores na cidade de Ribeirão Preto/SP. O artigo argumenta que a fragmentação socioespacial é um processo que pode ser analisado a partir das estratégias espaciais do comércio varejista moderno, que mantém nexos com a globalização contemporânea e incide de modo diverso no cotidiano dos citadinos. A partir de dados secundários, pesquisa de campo e mapeamento dos dados, chegou-se à conclusão de que uma nova divisão social do espaço se processa em Ribeirão Preto, resultado e condição das estratégias e ações dos capitais varejistas e shopping centers que mediante estratégias de localização favorecem o setor sul da cidade (dos ricos) em detrimento do setor norte (dos pobres), intensificando a fratura socioespacial na cidade.
XX ENANPUR (2023)
Este artigo apresenta uma introdução à análise das práticas cotidianas de mobilidade e consumo em dois contextos específicos da periferia da Região Metropolitana de São Paulo: Cidade Tiradentes, na capital paulista, e Pimentas, em Guarulhos. Fruto de uma pesquisa em andamento, este trabalho preliminar recorreu especialmente a um conjunto de entrevistas com citadinos para compreender, dos discursos e experiências destes últimos, os indicativos do processo de fragmentação socioespacial. Em decorrência das precárias condições de mobilidade urbana e da lógica dual centro-periférica, que dirigiu a produção do espaço metropolitano, o apartamento material e simbólico das periferias tornou-se, dialeticamente, propulsor de gradativas alterações e complexificações socioespaciais. Neste sentido, constata-se a redefinição do então padrão monofuncional de cidades-dormitório a partir, por exemplo, da (re)produção de shopping centers, da segmentação do consumo e do estabelecimento progressivo de grandes redes de fast-food, supermercados, farmácias etc. também nas periferias. Consequentemente, os lugares e os tipos de consumo, em maior proximidade com o local de moradia dos citadinos, ganham um progressivo protagonismo na transformação dos espaços de circulação e frequentação nos bairros e distritos periféricos, tais como Cidade Tiradentes e Pimentas.
Magno Ricardo Silva de Carvalho e Iara Rafaela Gomes
A desconcentração espacial de corporações do setor terciário proporcionou a chegada de grandes superfícies comerciais em espaços urbanos não-metropolitanos. Esta dinâmica favoreceu o estabelecimento de novos espaços privados de consumo em Marabá, cidade média paraense. Fruto de pesquisa, este artigo visa contribuir para uma interpretação das práticas existentes nesta cidade, no que tange às centralidades do seu intraurbano diante da implantação, especialmente, dos supermercados. O percurso metodológico, de maneira geral, consistiu em revisão de literatura sobre temas e processos selecionados para investigação relacionados diretamente com o fenômeno urbano-espacial estudado, bem como de levantamento e análise de dados primários obtidos por meio de entrevistas e formulários aplicados nas saídas dos estabelecimentos supermercadistas. A nosso ver, houve mudanças significativas nas centralidades e, consequentemente, na estruturação da cidade de Marabá. Em linhas gerais, os novos espaços de consumo não apenas efetivaram-se, individualmente, enquanto expressões de centralidade, como suas respectivas presença e atuação, em muito contribuíram para a formação e consolidação de uma nova área central na cidade, localizada ao longo de parte considerável do trecho urbano da Rodovia Transamazônica.
Fragmentação socioespacial e urbanização brasileira: escalas, vetores, rítmos, formas e contéudos
Maria Encarnação Beltrão Sposito, Vitor Koiti Miyzaki, Rafael Roxo dos Santos e Everaldo Santos Melazzo
A fragmentação socioespacial é um processo que caracteriza a ruptura entre partes da cidade, em termos sociais, econômicos e políticos. Este termo começou a aparecer nos estudos urbanos no final dos anos 1980, principalmente no Brasil, em que Santos (1990) caracterizou São Paulo como uma metrópole corporativa e fragmentada. A fragmentação socioespacial é constituída a partir de polarizações socioespaciais acentuadas, que podem ocorrer quando indivíduos portadores de identidade comum se agrupam em espaços apropriados exclusivamente, como os espaços residenciais fechados e controlados por sistemas de segurança ou grandes espaços de consumo e lazer privados. A produção desses espaços exclusivos está associada a uma relativa indiferença dos sujeitos que deles se apropriam em relação a outros espaços da cidade e a certos segmentos sociais, decorrente do distanciamento em relação à ideia de cidade como espaço de integração e globalidade. Esse processo de fragmentação socioespacial pode ser visto em três direções: pelo papel das políticas públicas e dos novos modos de governança das metrópoles continentais, pelas transformações associadas à globalização e às novas estratégias do management empresarial e pela relação, muitas vezes contraditória, entre mudança social e evoluções da estrutura urbana. A sessão livre se concentra nesta terceira direção, mas considera a indissociabilidade entre as três. A cidade fragmentada em construção resulta das novas formas de impacto da acumulação flexível e é caracterizada pela perda da hegemonia do centro, pela importância dos produtores imobiliários e pelo aparecimento de enclaves socialmente dissonantes no seio de tecidos com certa homogeneidade morfossocial, havendo contiguidade sem continuidade.
Teses
Nos últimos vinte anos, em decorrência do amplo e complexo processo de reestruturação capitalista perpetrado pelas novas relações de produção e consumo, incidiu-se um conjunto de mudanças nas cidades. Em Dourados, assim como em outros centros urbanos, o consumo passou a exercer papel mais importante do que a produção, e a indução dessa nova dinâmica alterou significativamente a estrutura da cidade, desdobrando a redefinição da centralidade nas escalas da cidade e da rede urbana. A partir de novas lógicas espaciais das empresas surgem novos espaços de consumo como os shopping centers, pequenos conjuntos de lojas, e a constituição de subcentros e de eixos especializados que, aliados à expansão territorial da cidade, contribuíram para a redefinição da centralidade. Neste trabalho, tomamos as franquias como objeto de análise; partimos do pressuposto de que esses empreendimentos articulam escalas mais abrangentes e seguem critérios e lógicas que as diferenciam do comércio convencional. Assim, nosso objetivo foi analisar o processo de reestruturação da rede urbana e da cidade, com ênfase na segunda, com vistas a desvelar o modo como as franquias participam da redefinição e da produção de novas expressões de centralidade em Dourados. A partir desse objetivo, surgiram outros que nos permitiram melhor compreender o papel das franquias, sendo eles: i) discutir o processo de descentralização das atividades comerciais; ii) analisar o processo de estruturação da cidade considerando o comércio varejista e o de franquias como fio condutor; iii) compreender a atuação das franquias no processo de reestruturação da cidade a partir das novas lógicas espaciais desses empreendimentos; iv) analisar os desdobramentos socioespaciais decorrentes da introdução de um novo padrão de comércio e serviços em Dourados. Para alcançarmos os resultados, realizamos levantamento bibliográfico; entrevistas com proprietários de franquias e agentes bem informados; pesquisas em sites de empresas e organizações da sociedade civil que compilam dados sobre o varejo nacional; trabalhos de campo no centro principal, e em outras áreas de centralidade, que incluíram registros fotográficos e observações na dinâmica recente do comércio. A pesquisa revelou que o aumento de empreendimentos comerciais e de serviços constituídos em sistema de franquia desencadeou um conjunto de mudanças, contribuindo para a redefinição das áreas comerciais da cidade e reforçando a centralidade do centro principal. Nessa perspectiva, na cidade de Dourados, onde o consumo tomou novos significados, as franquias assumiram papel de destaque na produção dos espaços comerciais e na reestruturação da cidade.
Dissertações
No decorrer do processo de urbanização, as atividades econômicas vinculadas às esferas do comércio, dos serviços e do consumo sempre ocuparam papéis fundamentais para a vida urbana, compondo a estruturação das cidades em suas formas, processos e conteúdos. Esta dissertação tem como objetivo geral definir e analisar a aglomeração urbana de Londrina-PR, em sua atual fase de estruturação espacial, englobando o padrão de distribuição de estabelecimentos do comércio e de serviços, os processos espaciais em curso e as práticas e estratégias espaciais de citadinos e lojistas orientadas pelo consumo. Pela destacada presença dessas atividades, assim como pela centralidade exercida na rede urbana, foi delimitada a aglomeração urbana de Londrina, composta por sete cidades na região norte paranaense, escolhidas a partir de critérios como continuidade espacial de relações e deslocamentos interurbanos, continuidade e proximidade territorial entre os tecidos urbanos. Para alcançar o objetivo proposto, adotamos procedimentos metodológicos variados, de cunho quantitativo e qualitativo: unimos os dados do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE) e as informações da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) para aferir o padrão de distribuição espacial dos estabelecimentos, que se apresentou multicêntrico e multicentralizado; para compreender a faceta empírica dessa distribuição, realizamos trabalhos de campo em localidades da área pesquisada; visando apreender os conteúdos referentes às práticas e estratégias espaciais de citadinos e lojistas, foram feitas entrevistas semiestruturadas. Reunindo os resultados obtidos, caracterizamos que a atual fase de estruturação espacial das cidades da aglomeração urbana de Londrina revela desigualdade socioespacial, a partir das esferas do comércio e do consumo, identificada pela existência de escalas geográficas distintas, construídas por intensas diferenciações nas práticas e estratégias espaciais, com alcances e possibilidades de realização díspares.
Fragmentação socioespacial e experiências urbanas em Presidente Prudente
Victor Hugo Quissi Cordeiro da Silva
Os processos de produção de diferenças e desigualdades socioespaciais são temas tratados na Geografia por diferentes geógrafos e perspectivas teórico-metodológicas. O espaço urbano, entendido como condição, meio e produto das relações sociais, expressa a relação entre uma lógica fragmentada e a segmentação socioespacial sendo, portanto, fundamental para a compreensão das desigualdades. O processo de fragmentação socioespacial é uma possibilidade de compreendermos como na estruturação da cidade as práticas espaciais dos citadinos definem e são definidas no contexto urbano propenso a acentuar as desigualdades socioespaciais, ainda mais agravada pela pandemia da covid-19. É a partir deste processo que observamos a condição dos sujeitos que vivem em conjuntos habitacionais do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) (faixa 1) em Presidente Prudente/SP e dos espaços residenciais fechados com residências de alto valor de troca, buscando objetivar a diferenciação e as desigualdades socioespaciais como caminho para se revelar nas escalas do cotidiano a sua inserção na cidade, levando em consideração as diferenças entre esses contextos socioeconômicos e espaciais distintos e mudanças advindas pelo contexto pandêmico. O processo de dispersão urbana foi discutido ao longo do texto e apresentado a partir das tipologias que este processo pode assumir no contexto latino-americano, ou seja, a precariópolis estatal e a privatópolis imobiliária, áreas marcadas respectivamente pela segregação e autossegregação socioespacial. As entrevistas semiestruturadas buscaram abordar diferentes aspectos do cotidiano e das experiências urbanas, tais como lazer, consumo, trabalho e habitação. A partir dessa metodologia pudemos identificar diferentes dimensões dos processos de segregação, autossegregação e fragmentação, indicados na maior ou menor autonomia na construção da própria espaço-temporalidade por parte dos entrevistados. Os percursos urbanos casa-trabalho-casa foram registrados a fim de apreendermos o cotidiano e elaborarmos uma análise da passagem da lógica centro-periférica para uma lógica fragmentária na qual se processa a fragmentação socioespacial não como determinante apenas, mas como forma-conteúdo do modo de pensar, fazer e viver a cidade.
Na última década, diversos autores têm apontado para a presença do processo de fragmentação socioespacial em cidades médias paulistas. Como fundamento da interpretação de tal processo, encontra-se a articulação entre o autoenclausuramento de amplos segmentos sociais em espaços residenciais fechados e a segmentação dos espaços de consumo de uma parcela da população de renda mais elevada, tendo como principais justificativas o medo de uma possível ameaça de violência e a crença na incapacidade do Estado na resolução desse problema, com a transferência de tal incumbência para a indústria privada da segurança. Mesmo com a tendência acima descrita, ainda se observa a existência de contatos, de vida pública nos espaço públicos, contrapondo-se a uma lógica de privatização da vida urbana. Nosso principal objetivo é contribuir com a compreensão das motivações por trás das práticas espaciais dos citadinos que continuam utilizando os espaços públicos numa relação aparentemente dicotômica com a privatização crescente dos espaços de moradia e consumo. Como recurso analítico, realizamos nossa pesquisa em duas cidades de diferentes portes do interior paulista, Bauru e Presidente Prudente. Como procedimentos metodológicos, realizamos trabalhos de campo e entrevistas, assim como a aplicação de enquetes, além de elaborarmos uma nova metodologia, buscando reconhecer os elementos produtores de afetos que motivam os citadinos a utilizar os espaços públicos pesquisados, a qual nomeamos de Percurso Comentado.
TCCs
Juventude do campo e o direito à cidade
Shara Brunetto
A urbanização no século XX se estendeu pelo Brasil, através da industrialização de grandes centros, porém esse processo não se limitou às cidades, estendendo-se até o campo. O processo de urbanização do campo na região de Chapecó vem desde meados de 1950, passando pela modernização do campo através de máquinas agrícolas, chegando no fim do século XX e início do XXI com mudanças que vão além dos meios de produção, são mudanças no modo de vida dos moradores do campo. Para compreender esse processo, pretende-se analisar o direito à cidade na perspectiva das juventudes do campo especialmente no que tange às relações que ela estabelece com a cidade em termos de lazer, pertencimento/conexão e consumo. Para atingir esse objetivo, para além do debate teórico, foram realizadas entrevistas de forma online com a pretensão de evidenciar aspectos do cotidiano dos jovens do campo, bem como suas práticas espaciais realizadas entre a cidade e o campo. Portanto, a urbanização do campo, aqui em evidência, vai além da modernização dos modos de produção, passa por uma transformação do modo de vida camponês, para uma apropriação do modo de vida urbano e é de extrema relevância para entender o contexto dos jovens no campo atualmente, marcado por uma variedade de práticas e formas de apropriação dos espaços.